Tuesday, February 24, 2009

Ermelinda do Menino Jesus Fong

Recebi recentemente na minha caixa de e-mail mais um pedido para assinar uma petição online. Tratando-se de preservar a livraria portuguesa em Macau, que segundo os promotores da petição um negócio imobiliário ameaça obrigar a saír da emblemática praça do Leal Senado para um prédio numa rua secundária, neste caso não podia deixar de fazer o meu pequeno gesto de democracia participativa, porque mesmo que não acredite grandemente na capacidade dos portugueses para a democracia não posso negar que participar é a única forma de poder criticar quem não o faz, para além do tema ser de alguma forma caro ao coração de quem passou parte da sua infância no último pedaço do nosso império ultramarino.

Ao rever a lista dos signatários da petição deparei-me com um nome que se destacava dos restantes. Era uma daquelas deliciosas expressões do bonito que é por vezes ser português, uma beleza diferente que dificilmente conseguimos explicar a quem é de fora, porque é preciso dominar as subtilezas do idioma para entender a imaginação que os portugueses são capazes de colocar no nome de uma terra ou de uma pessoa.

Essa excentricidade, legada do povo que inventou a língua aos que nasceram a falá-la -- de que o exemplo mais evidente deve ser a capacidade, certamente sem paralelo no mundo, dos brasileiros de dar nomes originais aos filhos -- é um dos sinais que sempre me levaram a acreditar que a minha pátria é a língua portuguesa. É por isso para mim uma alegria encontrar aqueles pequenos detalhes que só um português entende, e encontrei-a ao percorrer a lista, quando me deparei com o magnífico nome de Ermelinda do Menino Jesus Fong, com a graça de Deus e o apoio precioso do notário macaense para quem aquele terá sido, asseguro-vos, mais um dia igual aos outros na sua missão de registar o aumento da população do império lusitano.

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